O Capa-Branca foi tema de debate no curso de Psicologia da UNICEP

No dia 18 de maio, é comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, por isso, o curso de Psicologia da UNICEP reuniu os estudantes para participarem de uma palestra com o jornalista Daniel Navarro Sonim, sobre o livro intitulado “O Capa-Branca: as memórias do funcionário que virou paciente de um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil.”.

A palestra foi muito elogiada pelos estudantes e Daniel contou que também ficou muito satisfeito com o convite, pois é importante tratar alguns temas que o livro suscita, reflexões sobre a história da saúde mental, da psicologia, psiquiatria e da própria enfermagem, por fim, da história do Brasil.

“Quando apresentamos as histórias do Juquery, que são as memórias do Walter Farias, que escreveu o livro comigo, a gente faz reflexões”, afirmou Daniel e explicou: “A primeira é o modo como a memória no Brasil é tratada, a gente vê vários exemplos de destruição ou abandono dessas memórias. O Juquery sofreu pelo menos dois incêndios, um em 2005 que transformou em cinzas os portuários dos pacientes que passaram por lá entre 1952 e 2005. E outro incêndio no início dos anos 90, que queimou alguns dos livros com os registros dos mortos do cemitério do Juquery, quando essas histórias foram apagadas, a nossa história também foi apagada.”.

Daniel comentou que durante a palestra e mesmo os leitores do livro podem perceber que o período em que Walter viveu no Juquery foi a maior lotação do hospital, na década de 70. “Segundo números oficiais o Juquery teria recebido 18 mil pacientes em um local, que naquele período, teria condições de receber 9 mil, portanto havia uma superlotação, eram poucos funcionários para muitos pacientes e nesse contexto ficava impossível para que os funcionários promovessem a saúde e o bem-estar desses pacientes.”.
 
Nesse período uma serie de violações dos direitos humanos acontecia, visto que os tratamentos usados eram mecanismos de contenção como camisa de força ou medicamentos que deixavam os pacientes impregnados. “Devemos apreender com os equívocos do passado para tentar construir um presente e um futuro diferente, mais humano, e só conseguimos mudar estudando a nossa história, e claro, para gente se aprofundar nesses temas temos que ler toda a literatura disponível. E além desse tema, o acadêmico só se aprofunda naquilo que ele precisa, lendo. ”, disse Daniel.

Além das histórias do manicômio, Daniel, também trouxe a luta antimanicomial: “Esse movimento é para ficarmos alerta a esses retrocessos que são as formas de tratamento, a própria lógica antimanicomial de segregar, que não se pode repetir. Talvez um dia a gente não comemore mais do dia 18 de maio, porque comemorar é lembrar em conjunto, mas que a gente finalmente celebre, festeje como o dia da vitória, quando esses retrocessos fizerem parte de um capítulo muito doloroso da nossa história.”. 

Por fim, o jornalista contou que achou incrível a devolutiva dos estudantes durante e após o evento: “As perguntas foram excelentes, não apenas as que aconteceram durante o evento, mas as que vieram depois também, eu sempre deixo disponível minhas redes sociais, pois tínhamos um tempo limitado e quanto mais a gente fala sobre essas histórias mais queremos saber, eu fiquei conversando com as pessoas depois e isso foi muito positivo.”.

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Texto: Ana Lívia Schiavone
 

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